domingo, 11 de novembro de 2012


os ouvidos caminham
através das paredes arengam
solventes
salpicos de amor
num balde eufónico

os antigos ouviam
através das paredes
arengavam

solventes suspiros



na esquina ajoelhados
o chuço e a sombrinha

a sombrinha do padre
o chuço da sobrinha

fazem do cantochão
um baile de gemidos
para amantes antífonos
com excesso de língua


latino o chuço
ladina a sombrinha

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


POETAR
Bar bar bar BÁRBARO
tar tar tar TÁRTARO
la la la Lázaro
poetar
tarda a poesia tarda
atrasa o ódio espécimen
RENASCENTISTA
o ócio nos ossos
os ossos  nos bolsos
vulcânicos
do escritor
aviador
a vinho
a mar
porquê o amor
porquê o calor
tar tar tar
poetar
o pó diverso
disperso
porto
perto
aperto
pato
parto
a língua portuguesa 456 bombas atómicas no Cazaquistão

quarta-feira, 24 de outubro de 2012




poetas óctopodes
poemas toutinegras
versículos borboletas
Pound em St Elisabeths

terça-feira, 23 de outubro de 2012


se fores para Quiroalto
as flores não duram muito
nem o cabelo quente no peito glacial
onde a tua sombra flutua
muda
que nem tu
eu
ofereceremos flores às flores
se formos

quinta-feira, 18 de outubro de 2012


CAMINHE COM SAQUE NA CABEÇA
& KANT




as cores da ilha dos amores
as flores da ilha dos amores
os amores da ilha das flores
o amor, a amora e o eucalipto morto
o amor e a amora, o eucalipto morto
EUREKA o cometa e acometa
AURORA três reis jazem na água
e Portugal existe


domingo, 26 de fevereiro de 2012

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Alicantucination

Boneco de palha,
sou um bocadillo de Goya
rico em ansiedade e falha.

Boneco de palha,
sou um espantalho que se assusta de quatro
com a tradição desnuda.

Em ti,
sou pior do que um piolho,
sou uma metade que ama.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

alicanteations


Imóvel e retumbante
o apaixonado arranca o coração e fuma outro cigarro.

Continua o trabalho do tecelão
que regista com uma esponja
todos os impulsos míopes
do seu músculo preguiçoso:
a imóvel e retumbante
dança de esgrima
entre o fio de suor infinito e a piscina.

Na piscina flutua uma navalha de barbeiro
imóvel e retumbante- a sua mente-
com muitos dedos e muitos bolsos
é um grande albergue para velhos siameses
com uma rosa banheira de mármore
onde as rugas se confessam
ou uma cervejaria ou uma casa de pasto
ou uma arte de cerco ou uma rede de arrasto
ou uma toalha suada por um corpo que já foi amado.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

alicanteations

Bebo quase bêbado
frente a um fato de banho
do ano da minha mãe
e a um extintor
com saúde, a garrafa, os óculos.

O vidro baço é gentil mente descritivo
e implora à memória que imagine
todos os mergulhos
todas as braçadas
todas as chapas
todos os lábios
todos os cessares
e os sonhos pesados como seios firmes
que em ti nanaram dorindo.

O vidro baço é martelado e colorido
e não fala,
eu é que estou doente.

alicanteations

Amanhã a tinta sua aos trinta anos
o mal sem lenços assoa
respira e pica
o monte
enfermo de vida
e misericórdia
enforcará os Cinco
e o seu cão
será carteiro com óculos
nos ouvidos testículos
que os mosquitos picarão
e picarão
sem crueldade
mamãs sós
pombas galegas
com as nádegas frustradas
porém em riste
porém de pé
serão as baionetas de Cristo
e vanguarda da cerveja tinta
esposa do mata moscas geólogo psicanalista
do filho mais novo de 1935. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

alicanteations

De que serve olhar o mar
e lá ao fundo ver luzes
se os olhos molhados
quedam à varanda?     

E se as palmeiras
fossem orelhas de elefante
num cemitério de grilos?

Não sobraríamos aqui
sempre humanos
preparando o futuro
com a ciência às escuras?
hh

Um grão de arroz entrou forcado
pela boca de um caniço
e o vento não uivou.

Porque uivaria?

Nem sequer lhe doem os dentes
não é um saxofone azul
não incha
não sua
não geme
não treme
não espera
nunca te viu nua
não é um amor supremo
nem um lobo sequer.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

alicanteations


Pontapé no canto de uma boa noite
com os cotovelos firmes no balcão
e olhos prontos a serem fantasmas do Diabo.

Quem soprou o vento até aqui,
quem te sufoca de ar gramático
fecundou a velha mãe
com vinho marinho
e inventou a liberdade.

Por isso e só por isso pontapeias
as pernas das mesas
e afogas sereias?

Aqui ao lado das negras
vagas irlandesas
no nascer do dia
pela luz da divina fechadura
recordo-me de ti
numa praia
quase nua
da Jamaica sem mágoa e quase triste e sem rum
vamos como um polvo sem tinta
rindo ao som do nº3,
embora seja noite
e as estrelas pensem
em ficar coladas ao céu.

Também não,
mudos, os tornozelos.
Medos, nem todos,
os persas.

Azul, em parte,
o gin, em parte,
a sarda.

alicanteations


Estou em Alicante
estou dentro de ti
esquisito
tocando tambor
com os nós dos dedos
e o coração persistente
e pronto a ir-se
no primeiro cavalo de areia
que te chegue
e.

E nesta mesa
que os teus braços não conhecem
vou deixar uma mensagem
para o teu sorriso
em forma de acordeão:
La la la la
La la la la

No teu tempo há tempo.
Dorme bela
como tu.

Como te

Passa um doce de skate,
a noite aproxima-se,
cinco dedos, a braguilha
e uma faca.

É tempo de ser sobrevivente e inimigo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A mais uma 


És conosco uma loja de iniquidades
onde serás mãe e filha de ti.
Por isso estás aqui
cruzando as pernas, cruzando os braços,
cruzando as nádegas
até entrares no nosso viveiro.

Aí, tum-tum.

Peluquería Mene

Copo escuro - moicano rente
um espelho do Céu,
três portas à frente
roncamos e fumamos
livres como varejeiras.

Barbeaste a alma com álcool?
Não, só glamour na veia
para beber e esperar
a dor em beleza
travesti sublime
a cor do amor.
E às 10 p’ra ½ noite
o espectáculo da mulher
que se lambe com água
Com mãos nos bolsos às riscas,
3 perucas vão à missa dos jesuítas.

Se não me enganam
monto uma
joalharia
para vender talheres eucarísticos
às bactérias de outra história
que não seja
de gatas
uma camisa
de Vénus mentindo ao Sol.


 4 à esquina da mescalina

No casino dos convictos
das varizes úteis
erguemo-nos às estrelas
da farmácia mexicana
onde se restauram as próximas
bandarilhas
com o líquido sacro
que nos segura as presilhas.

Mas ainda estamos sempre
a 100m da Igreja
onde os barbeiros
roem unhas.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Até quando
o tempo nos manterá verdes?
Diz-me ao ouvido,
tu que és dourada.

A boca quer sementes,
os pulmões exigem ceifa.

A vista deseja o fruto,
O coração pede gomos.

Dá o teu peito liso
aos seixos da minha seara
para que eles chiem baixinho
junto ao berço das ondas,
junto à campa das palavras.

Dá-o a mim
como  uma  vindima
de figos
leitosa.

Quero ouvi-lo quase assim
bebido em vinho
bebido em esterco
bebido em prosa.