segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

alicanteations

Bebo quase bêbado
frente a um fato de banho
do ano da minha mãe
e a um extintor
com saúde, a garrafa, os óculos.

O vidro baço é gentil mente descritivo
e implora à memória que imagine
todos os mergulhos
todas as braçadas
todas as chapas
todos os lábios
todos os cessares
e os sonhos pesados como seios firmes
que em ti nanaram dorindo.

O vidro baço é martelado e colorido
e não fala,
eu é que estou doente.

alicanteations

Amanhã a tinta sua aos trinta anos
o mal sem lenços assoa
respira e pica
o monte
enfermo de vida
e misericórdia
enforcará os Cinco
e o seu cão
será carteiro com óculos
nos ouvidos testículos
que os mosquitos picarão
e picarão
sem crueldade
mamãs sós
pombas galegas
com as nádegas frustradas
porém em riste
porém de pé
serão as baionetas de Cristo
e vanguarda da cerveja tinta
esposa do mata moscas geólogo psicanalista
do filho mais novo de 1935. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

alicanteations

De que serve olhar o mar
e lá ao fundo ver luzes
se os olhos molhados
quedam à varanda?     

E se as palmeiras
fossem orelhas de elefante
num cemitério de grilos?

Não sobraríamos aqui
sempre humanos
preparando o futuro
com a ciência às escuras?
hh

Um grão de arroz entrou forcado
pela boca de um caniço
e o vento não uivou.

Porque uivaria?

Nem sequer lhe doem os dentes
não é um saxofone azul
não incha
não sua
não geme
não treme
não espera
nunca te viu nua
não é um amor supremo
nem um lobo sequer.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

alicanteations


Pontapé no canto de uma boa noite
com os cotovelos firmes no balcão
e olhos prontos a serem fantasmas do Diabo.

Quem soprou o vento até aqui,
quem te sufoca de ar gramático
fecundou a velha mãe
com vinho marinho
e inventou a liberdade.

Por isso e só por isso pontapeias
as pernas das mesas
e afogas sereias?

Aqui ao lado das negras
vagas irlandesas
no nascer do dia
pela luz da divina fechadura
recordo-me de ti
numa praia
quase nua
da Jamaica sem mágoa e quase triste e sem rum
vamos como um polvo sem tinta
rindo ao som do nº3,
embora seja noite
e as estrelas pensem
em ficar coladas ao céu.

Também não,
mudos, os tornozelos.
Medos, nem todos,
os persas.

Azul, em parte,
o gin, em parte,
a sarda.

alicanteations


Estou em Alicante
estou dentro de ti
esquisito
tocando tambor
com os nós dos dedos
e o coração persistente
e pronto a ir-se
no primeiro cavalo de areia
que te chegue
e.

E nesta mesa
que os teus braços não conhecem
vou deixar uma mensagem
para o teu sorriso
em forma de acordeão:
La la la la
La la la la

No teu tempo há tempo.
Dorme bela
como tu.

Como te

Passa um doce de skate,
a noite aproxima-se,
cinco dedos, a braguilha
e uma faca.

É tempo de ser sobrevivente e inimigo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A mais uma 


És conosco uma loja de iniquidades
onde serás mãe e filha de ti.
Por isso estás aqui
cruzando as pernas, cruzando os braços,
cruzando as nádegas
até entrares no nosso viveiro.

Aí, tum-tum.

Peluquería Mene

Copo escuro - moicano rente
um espelho do Céu,
três portas à frente
roncamos e fumamos
livres como varejeiras.

Barbeaste a alma com álcool?
Não, só glamour na veia
para beber e esperar
a dor em beleza
travesti sublime
a cor do amor.
E às 10 p’ra ½ noite
o espectáculo da mulher
que se lambe com água
Com mãos nos bolsos às riscas,
3 perucas vão à missa dos jesuítas.

Se não me enganam
monto uma
joalharia
para vender talheres eucarísticos
às bactérias de outra história
que não seja
de gatas
uma camisa
de Vénus mentindo ao Sol.


 4 à esquina da mescalina

No casino dos convictos
das varizes úteis
erguemo-nos às estrelas
da farmácia mexicana
onde se restauram as próximas
bandarilhas
com o líquido sacro
que nos segura as presilhas.

Mas ainda estamos sempre
a 100m da Igreja
onde os barbeiros
roem unhas.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Até quando
o tempo nos manterá verdes?
Diz-me ao ouvido,
tu que és dourada.

A boca quer sementes,
os pulmões exigem ceifa.

A vista deseja o fruto,
O coração pede gomos.

Dá o teu peito liso
aos seixos da minha seara
para que eles chiem baixinho
junto ao berço das ondas,
junto à campa das palavras.

Dá-o a mim
como  uma  vindima
de figos
leitosa.

Quero ouvi-lo quase assim
bebido em vinho
bebido em esterco
bebido em prosa.